Joana
Caroline de Souza Martins[1]
Gilmara Pereira Santos[2]
Jorsinai de Argôlo Souza[3]
INTRODUÇÃO
O movimento é parte
importante na formação do indivíduo como um todo. É pelo movimento que a
criança interage com o ambiente em que esta inserida. Portanto, não existe
educação infantil sem o movimento, sem a interação da criança com objetos, com
o mundo, com o meio. Segundo Galvão (2014, p.69): “antes de agir diretamente
sobre o meio físico, o movimento atua sobre o meio humano, mobilizando as
pessoas por meio de seu teor expressivo”.
Nessa direção, podemos
dizer que a primeira função do movimento no desenvolvimento infantil é afetiva.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998,
p.15), através do movimentar-se “é que se expressam sentimentos e emoções
ampliando assim os significados dos gestos corporais, portanto, é mais do que
um simples deslocamento do corpo no espaço, constitui-se numa linguagem.” O
documento ainda sinaliza que “o movimento é uma importante dimensão do
desenvolvimento e da cultura humana” (BRASIL, 1998, p.15), ou seja, o movimento
está ligado ao ser desde o seu nascimento, possibilitando controle corporal e
interação com o meio e não pode esta desassociada da formação do individuo.
METODOLOGIA
Durante as nossas
observações, numa turma de Pré I, com crianças na faixa etária de cinco anos,
detectamos que as aulas eram sempre muito monótonas e repetitivas: leitura da
bíblia, período de oração, rodinha para leitura de uma historia bíblica, que
geralmente é contada em etapas. As
crianças, por sua vez, sentadas enfileiradas, era permitido mover mãos e cabeça
para efetuar a tarefa sugerida pela professora que, na maioria das vezes, era
sempre um recorte, uma colagem.
Partindo dessa
realidade, começamos a planejar sequências didáticas baseadas no movimento, com
a finalidade de ampliar a expressividade corporal das crianças, utilizando
jogos e brincadeiras. Sendo assim, exploramos a diversidade da dinâmica do
movimento como a força, a velocidade, a flexibilidade, levando a criança a
conhecer suas limitações corporais e até mesmo desenvolvê-las.
Escolhemos a princípio
trabalhar uma história que permitisse aos alunos recriarem a mesma ou desse
sequência através dos movimentos corporais que possibilitassem a todas
movimentarem-se por todo o ambiente da sala de aula. A “Historia dos Animais da
Floresta”, que nos permitiu trabalhar com imitação de cada animal requerendo
movimentos diversos e o uso de todo o espaço da sala de aula.
Com a história de “Dolores a Dolorida”, além
do movimento corporal, onde eles imitaram a cobra, trabalhamos conjuntamente
com a motricidade fina, quando foram exigidos movimentos mais precisos na
confecção da cobra Dolores, que eles recriaram com papel metro e tinta guache.
Utilizamos pista com moldes de PVC, onde se trabalha o movimento dentro da
motricidade grossa e exige da criança um controle corporal completo trabalhando
postura e equilíbrio estático e dinâmico; jogo de boliche com material
reciclado, que além do movimento ainda contribuiu para o aprendizado das letras
iniciais.
Na historia “O Dono da
Bola”, de Ruth Rocha, fizemos um circuito onde utilizaram a bola, movimentando
assim todos os músculos corporais, experimentando domínio espacial e o
equilíbrio.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Considerando que o
movimento integra toda atividade conjunta da criança e está vinculada a toda
forma de expressão das mesmas é preciso permitir que toda sua intimidade, ou
seja, tudo que está relacionado aos seus sentimentos venham à tona através do
corpo, mesmo sem haver atividade muscular, como diz Galvão (2014, p.69), “é
preciso que se admita que a atividade muscular poda existir sem que se dê
deslocamento do corpo (de segmentos ou do todo) no espaço.” Ou seja, o
movimento está presente também quando a criança desenha o personagem da
historia ou recria esse personagem através de alguma atividade como a pintura
ou moldes de papel ou até mesmo imitando esses personagens no faz de conta.
Observamos esse
trabalho corporal rico em movimentos, quando após um conto que fala de animais
pedimos que as crianças fizessem de conta que estavam numa floresta e imitassem
de forma subsequente os animais. Notamos que houve uma interação com todo o
ambiente,quando saíram de suas mesas e puderam conhecer a sala de aula por
completo,visivelmente percebeu-se uma imensa alegria em aprender quais são os
animais silvestres, ou seja, movimentar também implica em conhecimentos.
A intervenção seguinte, associando o movimento e a
motricidade fina, utilizamos no primeiro momento a caminhada em linha, onde
foram coladas fitas de diferentes cores ao chão e em direções também
diferentes, com o intuito de que cada criança recriasse o seguimento de cada
linha. Num segundo momento, ainda recriando o seguimento da caminhada em linha,
eles recriaram o mesmo com o auxílio de papel crepom em cores diversas
trabalhando assim a motricidade fina no ato de pinçar os dedos para criarem as
bolinhas de crepom.
Segundo Mattos
e Neira (2004, p.176), “o movimento, o brinquedo, os jogos tradicionais da
cultura popular preenchem de alguma forma determinadas lacunas na rotina das
salas de aula”. Dentro deste conceito, optamos por trazer brinquedos como bola,
corda, garrafas pets recicladas para um maior aproveitamento do movimento em
sala de aula. Com as crianças deitadas em formato de circuito e com o auxílio
de uma bola, esta colocada nos pés do primeiro da fila, cada um passaria a bola
presa aos pés para o a criança deitada atrás, em seguida este pegaria a bola
também com os pés e assim sucessivamente até chegar ao último da fila. Nessa
atividade, que houve intensa participação, notamos que a maioria tinha
dificuldades de prender a bola aos pés, possivelmente pela falta de
movimentação cotidiana em sala de aula. No entanto, depois de fazermos essa
brincadeira por diversas vezes, pudemos observar que agilidade e destreza nos
movimentos já se faziam presentes. È de suma importância que educadores tenham
consciência de que há uma interdependência entre o corpo, a mente e o ambiente.
Quando essa relação é percebida, notamos que as crianças aprendem melhor e com
muito mais prazer.
Uma atividade
que fizemos e notamos que as crianças se envolveram de forma bem participativa
e prazerosa foi o jogo da imaginação. Wallon nos salienta (GALVÂO, 2014) que a
criança pequena utiliza seus gestos e sons para externar seus pensamentos. Partindo desse pensamento, ampliamos o espaço
da sala de aula de modo que todos ficassem sentados em circulo em quase todo o
espaço, cantamos e relaxamos com a brincadeira pés de palhaços e pés de
bailarina, onde eles movimentam a ponta dos pés esticando pra frente e pra
trás. Em seguida sugerimos que todos se deitassem e fingissem estar dormindo.
Logo acordaram e tinha um lago de gelatina no centro do circulo e todos deveriam
tocar com as pontas dos pés a gelatina, chegando ao centro sem se levantar,
apenas usando bumbum e mãos para se apoiarem. A partir daí, imaginamos muitas
outras opções, piscina de gelatina, grama. Depois relaxamos e fingimos dormir e
acordar dentro de uma floresta imensa e todos eram habitantes dessa floresta.
Posteriormente, íamos acordando bem devagarzinho, ora como uma aranha (imitavam
a aranha), ora como minhocas, tatu-bola, tigres, coelhos, pássaros grandes,
pássaros pequenos. Desse modo, trabalhavam com diversidades de movimentos ao
mesmo tempo em que usavam a imaginação e aprendiam utilizando também a
imitação.
Nas primeiras
observações detectamos que as crianças sempre muito quietas e tímidas, receosas
umas com as outras. Até comentamos que nunca havíamos visto crianças naquela
faixa etárias tão quietas. Sendo assim,
o movimento foi sim uma intervenção significativa
para essa turma. Percebemos que a cada intervenção eles estavam mais
participativos e envolvidos nas brincadeiras e movimentos exigidos. A barreira
entre eles também foram sendo quebradas de maneira que interagia muito mais
entre si de forma desenvolta, como também a divisão dos brinquedos. Dividia a
mesma corda, a mesma bola sem tanto transtorno ou interferências de adultos. O
lúdico como veiculo de aprendizagem é fundamental para as crianças e essa
mistura do lúdico, com a arte de imitar os sons, os bichos,a representação da
historia que ouviram,ajudam na aprendizagem, assim como nas melhoras das
habilidades motoras (força, equilíbrio, flexibilidade, coordenação fina e
ampla, lateralidade). Pois, segundo o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil o conceito de movimento é:
[...] O movimento humano, portanto, é mais do
que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que
permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente
humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (RCNEI/BRASIL,
1998 p. 15).
Sendo assim, o
movimento assume uma importância na educação infantil que vai muito além dos
períodos do recreio. Ele carrega o sentido de educar brincando e a proposta é
que se repense a forma de educar estaticamente, pois o homem não é só mente,
ele é mente e corpo que deve ser trabalhado conjuntamente.
CONCLUSÕES
OU CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que com o
intuito de se manter a “ordem” em sala de aula, alguns professores deixam de
lado o trabalho com o movimento corporal, optando assim, por desenvolver
atividade, dentro de uma perspectiva mecanicista. Portanto, é preciso entender que
ao elaborar o planejamento da educação infantil, deve-se considerar que o
movimento faz parte do ser infantil. Desse modo, cabe ao professor organizar
propostas de atividades que aprimorem e desenvolvam o movimento corporal das crianças.
REFERÊNCIAS
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: Uma
concepção dialética do desenvolvimento infantil. 13a edição. Petrópolis:
Vozes, 2004.
BRASIL, Ministério da Educação e do
Desporto. Secretária de Educação Fundamental. Referencial curricular
nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
MATTOS, M. G.; NEIRA, M.G. Educação
Física infantil: construindo o movimento na escola. Guarulhos, SP: Phorte
Editora, 2004.
[1] Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia-UESB. Bolsista de Iniciação à docência. Email:joanna.karoliny@hotmail.com
[2] Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia-UESB. Bolsista de Iniciação à docência. Email: gil_guerre_ira@hotmail.com.
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