LITERATURA INFANTIL ATRAVÉS DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
Êmille
da Silva Cabral ¹
Jorsinai de Argôlo Souza²
INTRODUÇÃO
A Educação Infantil é uma fase ideal para a formação do
interesse das crianças pela leitura. Segundo Abramovich (2009, p. 14) "é importante para a formação de qualquer
criança ouvir muitas histórias [...] Escutá-las é o início da aprendizagem para
ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta
e de compreensão do mundo". Diante dessa realidade uma das formas de despertar nas crianças o gosto
pela leitura, é através da prática da contação de histórias, pois além de estimular o interesse pela
literatura infantil, contribui para o processo de
ensino-aprendizagem na Educação Infantil. Nessa direção, Aroeira (1996, p. 141)
afirma “Contar histórias é uma experiência de grande significado para quem
conta e para quem ouve”.
Segundo o Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil (RCNEI, 1991, v.3, p.140) “A narrativa pode e
deve ser porta de entrada da criança para os mundos criados pela literatura”, pois o momento de contação de histórias é uma atividade
de estimulo á imaginação e criatividade. Pode-se envolver também, canções no momento em
que a história está sendo contada, estimulando a oralidade das crianças. Sendo assim, a
literatura infantil nos leva para um mundo imaginário, no qual as crianças se
alegram, se divertem, despertam para curiosidades e se concentram para o
momento das historinhas.
A fantasia faz parte do
mundo imaginário, sendo a infância uma fase diretamente ligada á esse mundo de
fantasia. Corso sinaliza que “a paixão pela fantasia começa muito cedo, não
existe infância sem ela, e a fantasia se alimenta da ficção, portanto não
existe infância sem ficção” (CORSO 2006, p. 17). Portanto, quando o professor aproxima seus
alunos da leitura e da contação de histórias ele explora esse imaginário, pois
segundo Vygostky:
A importância do trabalho criador
(imaginativo) se verifica no desenvolvimento da criatividade infantil, na
evolução e no amadurecimento da criança, pois no plano imaginário podem ser
observados os desenvolvimentos cognitivos, pelo raciocínio estimulado, assim
como a memória... (VYGOTSKY,
1996, p. 18)
Sendo assim, o
presente trabalho tem como objetivo apresentar relatos de experiência com a
literatura infantil através da contação de histórias.
METODOLOGIA
Desenvolvemos
nossas atividades no Centro de Educação Infantil Professora Luiza Ferraz,
localizada num bairro periférico do município de Itapetinga, interior da Bahia,
que atende alunos de idade escolar entre 04 e 06 anos. As
observações participantes foram realizadas na turma do pré I e verificamos que
havia uma carência na prática docente relacionada ao trabalho com a literatura
infantil, em especial na contação de histórias.
Durante
todas as intervenções exploramos o cantinho da leitura, existente na sala de
aula com a leitura deleite. Em uma das intervenções a leitura deleite foi de um
livro chamado “O grande rabanete” de Tatiana Belinky. Após a leitura, ainda no cantinho
da leitura, sempre há espaço para diálogo com as crianças sobre o livro e suas
vivências, então logo montamos uma roda de leitura no chão, explorando o espaço
da sala.
Em outra intervenção,
confeccionamos um avental, com velcro, para contação da
história “Maria vai com as outras” de Sylvia Orthoff, que relata a história da
ovelha Maria que era maria-vai-com-as-outras,
até o dia que descobriu que cada um pode ter o seu próprio caminho. Á medida
que a história estava sendo contada, os personagens
eram fixados no avental. Em seguida,
conversamos sobre o livro e depois, as crianças, juntamente com nosso auxilio, confeccionaram
uma maquete representando o local por onde as ovelhas passaram na história usando tinta para pintar o isopor. Foi criado o pasto
das ovelhas, também montaram as ovelhinhas com colagem de algodão para colocar
no pasto feito com a maquete.
Outra intervenção
bastante significativa foi a contação de uma história que criamos sobre os
animais. Durante a cotação, as crianças reproduziam os sons e os gestos dos
bichos conosco. Além disso, também apresentamos a primeira letra do nome dos
animais associando as letras inicias do nome de cada aluno e, em seguida,
reproduzimos, no espaço da sala de aula, o habitat dos animais, com flores e
folhas, em um circuito com obstáculos para
que as crianças caminhassem.
Também trabalhamos com outras histórias, clássicos como Três porquinhos
e Chapeuzinho vermelho, a contação foi através de dramatização. E outros como Cachinhos
dourados e os Três ursinhos, Menina bonita do laço de fita, que a contação foi
realizada com fantoches, entre outros.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Nas primeiras
observações detectamos que as crianças tinham uma curiosidade e vontade de ter
mais contato com os livros e ouvir histórias, pois solicitavam sempre. Porém,
nos momentos em que estávamos em sala de aula, observando, esses momentos não
aconteciam. Desse modo, proporcionar intervenções voltadas para a contação de
história foi significativo para essa turma. Conforme o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 143, v.3):
A
intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar
para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la
com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo á escuta atenta,
mobilizando a expectativa das crianças [...].
Percebemos
que a cada intervenção as crianças estavam mais concentradas e interessadas em
ouvir as histórias e também mais envolvidas no momento das atividades propostas.
Também aprenderam a interagir melhor, pois sempre levamos atividades para serem
executadas em grupo para ajudar nessa parte de socialização entre as crianças e
no seu desenvolvimento integral. Nesse sentindo, Rossini afirma que:
As histórias
favorecem o desenvolvimento da linguagem, do pensar em suas fases evolutivas:
imagem, imaginação criadora, observação, dedução e julgamento. Dizem que os
olhos são os espelhos da alma e a fala é o espelho da personalidade. (ROSSINI,
2001, p.56).
Em todas as intervenções exploramos a leitura de livros com
a “leitura deleite”, momento importante de diálogo e socialização das crianças
no cantinho da leitura existente na sala de aula. Esse espaço foi organizado pela escola para
esses momentos de contato da criança com os livros, porém estava sendo pouco
utilizado. Exploramos também a contação
de histórias na qual o enredo e os personagens ganham vida
através da criatividade do narrador e seus instrumentos e, dessa forma,
incentiva não somente a imaginação, mas o gosto e o hábito da leitura, aguçando também a curiosidade da
criança, pois contação de histórias está ligada ao imaginário
infantil.
Foi importante também
estimular a autonomia das crianças, irem ao
cantinho da leitura pegar o livro de sua preferência para ler. Após o término,
poderia repassar o livro para os colegas. Sendo assim, além da leitura e o
gosto por livros, exercitam também a interação e socialização.
Durante as intervenções
também estimulamos o movimento corporal das crianças, auxiliando no
desenvolvimento da coordenação motora. Foram
momentos de aprendizagem e diversão, afinal criança também aprende brincando. “Na
brincadeira, a criança cria outros mundos e se comporta além do habitual e
cotidiano. A criança vivencia-se no brinquedo como se ela fosse maior do que é
na realidade”. (L.S. Vygostky, 1991, p.117).
Enfim, avaliamos que as
crianças foram contagiadas pela leitura, pois elas já nos recebiam com
expectativa, pedindo para contarmos mais historinhas. Entendemos as grandes
contribuições que a literatura proporcionou para as crianças, pois:
O ouvir
histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o
teatral, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de
novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!
(ABRAMOVICH, 1991, p. 23).
CONCLUSÕES
OU CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a presença da
literatura infantil é fundamental e indispensável na educação infantil. A criança
pode e deve ter contato contínuo com os livros na escola e ser livre para criar
suas fantasias e usar seu imaginário ouvindo e vivenciando a contação de
história.
A escola deve dá
atenção especial a contação de histórias, como uma rotina inserida nas aulas,
pois a mesma contribui na aprendizagem das crianças, conforme afirma Dohme
(2011, p.18) “com as histórias, pode-se trabalhar aspectos internos e
educacionais de uma criança.”
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura
infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2009
AROEIRA, M.; SOARES, M.; MENDES, R. Didática de pré-escola: vida e criança:
brincar e aprender. São Paulo: FTD, 1996, p. 167.
CORSO,
Diana L. & Mario. Fadas no divã. A
psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.
DOHME, Vania D’Angelo. Técnicas de contar histórias: um guia para
desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história.
Petrópolis, RJ: Editora: Vozes, 2011
MIGUEZ, Fátima. Nas
arte-manhas do imaginário infantil. 14. ed. Rio de Janeiro: Zeus,
2000.
Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil - Brasília
MEC/SEF, 1998. 3V. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf
. Acessado em: 19 de Julho de 2017.
ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia afetiva.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002.
VYGOTKY, L.S “A formação social
da mente”, Editora Martins Fontes, 1991.
VIGOTSKY, L
S. La imaginación y el arte em la infância. (Ensayo psicológico). 3.
ed. Madrid, Espanha: Akal., 1996.
¹Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. Bolsista de Iniciação à docência. Email:emillecabral87@gmail.com
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