sábado, 26 de março de 2016

RODA DE ESTUDO - PIBID EDUCAÇÃO INFANTIL



O livro Educação Infantil: formação e responsabilidade de Sônia Kramer e colaboradoras trás discussões importantes sobre gestão, culturas, infância, educação infantil, formação e pesquisa. A obra compreende textos escritos por membros do grupo de pesquisa sobre Infância, Formação e Cultura (Infoc) - composto por professores e alunos de graduação, especialização, mestrado e doutorado - e por professores do curso de especialização em Educação Infantil da PUC-Rio, os quais trazem resultados de estudos, relatos de práticas, questionamentos, indagações e proposições. 
                Nos capítulos 12, 13 e 14 foram apresentadas contribuições sobre a infância, tempos e espaços e como buscar no cotidiano escolar, uma interação com qualidade.
Para que sejam estabelecidas interações positivas e educativas, a criança precisa ter espaço adequado para suas vivências e aprendizagem. Um espaço favorável facilita as diversas interações que são necessárias nessa etapa da educação básica, viabilizando também uma forma silenciosa de educar, como tão bem pontua, Frago e Escalano (1998).
A institucionalização da Ed. Infantil, fruto de diversas lutas sociais, ainda percorre um caminho onde os trilhos são assentados sobre atitudes adultocêntricas, onde ainda não se reconhece a criança enquanto portadora de identidade nesse estágio da vida humana. Ainda reside um pensamento voltado para a criança enquanto receptora de informações, desconsiderando sua incrível capacidade de recriar as situações no cotidiano escolar e fora dele o tempo todo, podendo expressar-se com criatividade, liberdade e produzindo saberes de forma muito mais significativa.
Compreender as práticas cotidianas na educação infantil e os tempos escolares, ainda são desafios para muitos educadores.  Ver a criança como sujeito histórico ainda é complexo, pois requer desdobramentos dos profissionais de educação (não somente o professor) para compreender que a escola é um espaço diverso e cheio de possibilidades a depender do olhar que se tem sobre ela sobre a criança.
Os espaços de educação infantil devem ir além do cuidar e educar, as crianças precisam através de seu espaço/tempo, criar mecanismos onde a brincadeira se faça presente, nascendo diversos contatos dessas interações possibilitando construir saberes e reconstruir-se nesse movimento. Segundo (Tiriba, Barbosa e Santos), a relação entre educar e cuidar, principalmente nas creches visa diminuir o entendimento errôneo, onde essas duas práticas andam separadamente. O educar e cuidar pode e deve, segundo as Diretrizes para educação infantil, ser trabalhados de forma que haja uma interação entre adultos e crianças como produtoras do conhecimento a partir de suas práticas cotidianas, de forma amorosa, brincante e democrática.
Articulando o ato mental ao ato motor, Wallon afirma que toda motricidade é psicomotricidade, ou seja, o movimento, que é uma atividade muscular, sempre conta com uma qualidade afetiva/emocional.
Nesse sentido, as atividades que tem como finalidade a contenção do corpo, precisam ser repensadas e colocadas em segundo plano. Podemos notar no cotidiano escolar claramente que o que dá mais prazer às crianças é o contato com os diferentes colegas no intervalo livre. Essa experiência garante o que Wallon afirmou, pois ela é rica em elementos afetivos/emocionais e favorecem através dos conflitos, brincadeiras, momentos tensos e amistosos, entre outros aspectos, a reelaboração do que se é e do que posso tornar-me em relação aos outros em todo tempo e diferentes momentos nos espaços escolares.
O comportamento das crianças é, portanto, marcado pelas características das ações e das práticas que vivenciam cotidianamente. E a aprendizagem é fruto das interações sociais que impulsiona o desenvolvimento. A brincadeira por sua vez, provoca a aprendizagem do que ainda não se sabe; é uma forma de produção de conhecimento – construção esta que se dá por meio de ações compartilhadas – por isso é fundamental que a criança possa estar em espaços que possibilitem a criação, a construção e a imaginação.
Continuamos as discussões em torno de questões que estão relacionadas também as interações de qualidade no cotidiano da educação infantil, como buscar tal interação?
O texto reflete o desafio de uma prática de formação, que leve em conta o cotidiano como tempo-espaço, ou seja, o seu dia-a-dia, como forma para desenvolver a aprendizagem com qualidade. As Diretrizes Curriculares para Educação Infantil já afirma essa qualidade quando diz que o PPP da escola deve ter a criança como centro de toda prática educacional de aprendizagem.
Segundo Guattari (1990), diante do retrato do mundo atual, precisamos reinventar as relações entre seres humanos e natureza, também nos espaços da educação infantil. As autoras trazem três unidades de estudo para estruturar o programa de trabalho na escola. A primeira: é o desafio desse cotidiano, construído social e historicamente e que é produzido a partir dos atos, gestos, ações, olhares, ditos e não ditos de uma rede que inclui crianças, adultos que trabalham diretamente com crianças, equipes de direção, famílias e comunidade. A perspectiva de que o cotidiano é produção social e cultural assume a forma e o significado espacial e temporal que a instituição, suas equipes e as crianças lhe conferem (Barbosa 2013).
A segunda: com “paixão” se conhece o mundo: as rotinas ressignificadas. Segundo as Diretrizes no artigo 3º, o ponto de partida é levar em consideração as “experiências e os saberes das crianças” que também produz cultura nas interações, relações e práticas cotidianas. Uma prática humanizada assume as interações como ponto de partida. Tendo em vista que é na interação com o outro que os afetos e os conhecimentos se constroem, também é aí que se dão as aprendizagens sobre trabalhar com as crianças e sobre relacionar-se produtiva e democraticamente. Uma interação qualificada resulta em atividade criadora. Sujeitos que interagem, reconstroem internamente essas relações, produzindo algo novo. Para Vygotsky (2000, p.74) uma relação “entre” pessoas (interpsicológica), socialmente, é transformada num processo que é “intrapessoal” (intrapsicológica).  O que é internalizado não são as relações sociais em si, mas algo diferente, que é reconstruído pelo próprio sujeito. Desse modo, a qualidade das interações é determinante para a qualidade daquilo que se reconstrói internamente, que consequentemente será material para a imaginação criadora.
Proporcionar as crianças, momentos de interação, em que elas se sintam parte do fazer e querer fazer. Para Malaguzzi (1999, p. 93), é nesse momento que o cotidiano se materializa como tempo-espaço de produção de liberdade ou opressão.
A terceira e última unidade de trabalho, é o desfio da produção do cotidiano: construindo estratégias de constituição de equipe e estreitamento das relações entre escola e sociedade. O que de fato fazer, a estratégia, a ação que irá proporcionar esse momento de internalização de novos conhecimentos. Elaborar práticas inovadoras que esteja relacionada ao cotidiano da educação infantil.
Portanto, é preciso ampliar a experiência da criança a fim de lhe proporcionar elementos para sua atividade criadora: quanto mais ela viu, ouviu, experimentou, mais ela sabe e mais produtiva será sua imaginação.

Referência:
KRAMER, Sônia; NUNES, Maria Fernanda; CARVALHO, Maria Cristina (Orgs). Educação Infantil: formação e responsabilidade.1ed- Campinas, SP: Papirus, 2013’


Por: Débora Guimarães e Raelma Santos